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Filosofia
Acontecimento em Alain Badiou
28/06/2018
No contexto do esvaziamento da política e estetização do pensamento que impacta os anos 80, coloca-se em dúvida a possibilidade da filosofia. Friedric Jamenson, que introduz a escola de Frankfurt no mundo anglo-saxão, se expressa em termos de pensamento e não mais de filosofia. Há uma perda de convicção de que exista uma verdade, já que não é possível acessar o ser. Alain Badiou se opõe a ideia do fim da filosofia e articula como se mantém vigente.
Retorna a Platão enquanto referência da origem da filosofia cuja existência e história vinculam-se ao problema da verdade. Identifica quatro áreas em que se produzem verdades que, no entanto, não são necessárias para a existência de tais áreas – matema (ciência), política, poesia e amor – que são, no entanto, históricas. A filosofia, por sua vez, busca regularidades permanentes, por isso se fechou – suturou – quando aproximou-se de algumas dessas áreas em busca da verdade. É o caso dos modelos jusnaturalistas, contratualistas, marxistas, que são produções de verdades do âmbito da política ou, quando a filosofia se associou à ciência, que se afirma e pretende como única área produtora de verdades.
Foi a coexistência das 4 áreas, em Atenas, na Grécia Antiga, que fez surgir a filosofia como elemento novo. Em Atenas havia liberdade de pensamento, influência da matemática, desenvolvimento da tragédia como arte e amor entre os homens, na polis ateniense. Quais os limites da filosofia?
Badiou articulou a produção da verdade com uma teoria do sujeito em que a verdade deve ser pensada como uma ruptura com a doxa, a opinião, o senso comum. A verdade é a emergência do novo, a ruptura que se manifesta enquanto acontecimento. É uma revelação, uma descoberta, um instante. É a situação como limite absoluto do pensado, como pura Apresentação, sem Representação. É um esquema conceitual, pois, como definir uma situação não representada? Qualquer que seja a situação, sua representação é feita pela linguagem.
O retorno à Platão permite a Badiou vincular a filosofia à emergência do novo. Tanto Badiou quanto Martin Heidegger propõem o abandono da metafísica clássica, por uma noção de sujeito que não é mais concebido numa perspectiva kantiana do espaço e do tempo, mas como uma subjetividade. É o sujeito, pela subjetivação que nomeia o acontecimento que, em si mesmo, é inominável.
Acontecimento é uma ruptura num estado qualquer, em si inapreensível. É o sujeito genérico, sujeito subjetivado que nomeia o acontecimento. O acontecimento é algo fora, uma ruptura de estado vigente; é o momento da verdade. O que vem depois são as consequências do acontecimento. O acontecimento é um momento que não tem Sujeito nem Objeto. É quando o animal humano se transforma em sujeito ético, em virtude das consequências do acontecimento.